domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Passou tempo. Como pode passar tempo quando tudo no mundo parou? Os lugares, os gestos, perdem sentido, e o tempo, como uma inclemência maior do que a morte, passa nas casas mais distantes e, pior, passa dentro das coisas paradas e impossíveis. Todos os homens deixam, depois de si, o tempo. Nas suas memórias mortas, o passado mistura-se com o presente. No mundo, o tempo é imparável e é sempre presente. O futuro não chega nunca. O passado nunca existiu. O tempo corre parado. A eternidade existe agora. A eternidade do tempo é igual a este preciso instante. E, no entanto, quando estávamos no quarto, passou tempo. Tenho a certeza de que passou tempo. Todos sentimos que passou tempo. (...)"
José Luís Peixoto, Uma Casa na Escuridão

Sem comentários:

Enviar um comentário